Mar, 2020
Filipe Vieira Fernandes
“O olhar sobre o cotidiano de quem vive no espaço desenhado pelo mapa traz esta riqueza de detalhes que as estatísticas muitas vezes não têm condições de expressar. […] O seu sentido está na busca pelo entendimento da realidade concreta vivida pelos moradores e as políticas públicas presentes/ausentes nos diferentes territórios da cidade.” (KOGA, 2011, p. 211-212)
Com o avanço da tecnologia ao longo do século XX, os mapas também, evoluíram, e aquilo que era feito apenas em documentos e mapas em papel e impedia uma análise que combinasse diversos mapas e dados, hoje é realizado tudo simultaneamente em ambiente computacional.
Com a tecnologia da Informática tornou-se possível armazenar e representar tais informações em ambiente computacional, abrindo espaço para o aparecimento dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG), softwares que permitem realizar análises complexas, ao integrar dados de diversas fontes e ao criar bancos de dados geo-referenciados.
O termo Geoprocessamento diz respeito ao campo de conhecimento que utiliza ferramentas e técnicas presentes nos Sistemas de Informação Geográfica para o tratamento da informação geográfica, e vem influenciando de maneira crescente as áreas de Cartografia.
A avanço tecnológico alterou o trabalho cartográfico, e quando Guedes e Rosário (2005) dizem que as novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) exercem uma poderosa influência na atividade humana, estes novos recursos se mostram também presentes na cartografia, pois, ao se falar em mapas, estes representam uma forma de comunicação: com suas cores, suas formas e a disposição dos objetos representados, elementos que se somam para efetuar uma comunicação, transmitir informação.
Os primeiros mapas produzidos na antiguidade eram carregados de elementos de acordo com o objetivo de quem os fazia, ou seja, eram verdadeiras obras de arte. Contudo, o processo de produção de um mapa era muito demorado, já que era feito totalmente artesanal, desde as fases de coleta até o desenho do mapa.
A sociedade que emergiu após a Revolução Industrial é predominantemente urbana. Mais que isso, é uma sociedade urbana em constante transformação resultante de um processo contínuo de destruição-reconstrução de espaços de relação físicos e simbólicos, e agora, como nunca em nenhum outro período da história, diz Castells (1999), pudemos presenciar um momento de intensas mudanças impostas a todo momento por uma sociedade em total comunicabilidade, independente dos locais que esteja no planeta.
Para ele vivemos em uma sociedade em rede (CASTELLS, 1999), na qual existe um imbricado fluxo de informações instantâneas vindas de diversas partes do globo a todo o momento.
O surgimento e consolidação desse novo modelo de sociedade teorizado por Castells (1999) é sem dúvida, sinônimo de mudanças ou como quer Harvey (2000), de rearranjos espaciais.
Agora, e mais do que nunca, esses rearranjos se dão cada vez mais frequentes e amplamente espacializados.
Por isso, no atual período da história mundial, há necessidade de técnicas para que se consiga entender realmente as formas-conteúdo da paisagem, tanto urbana, como rural, e nesta perspectiva a atualização, por meio de mapas dos acontecimentos e fenômenos, vislumbra o conteúdo e qualidade da informação espacial do fenômeno.
Se a inovação tecnológica nesta era industrial baseia-se na introdução de processos que substituem a presença humana e amplificam certas capacidades (GUEDES & ROSÁRIO, 2005), na cartografia o SIG está no bojo de toda essa revolução tecnológica, já que permitem análises multiespaciais e multitemporais, por uma única pessoa, sem sair da frente do computador.
Desta forma, se na era industrial o aumento da produção e da produtividade é a preocupação essencial enquanto a eficiência é a principal determinante das atividades econômicas (GUEDES & ROSÁRIO, 2005), nesta linha dos paradigmas da sociedade atual, obter informações em tempo real e de qualquer lugar, é sem dúvida aumentar a eficiência e a produtividade de informações.
Sobre a importância desta eficiência e produtividade de informações nos estudos territoriais, Dirce Koga (2011, p. 293) diz que “o casamento entre o geoprocessamento e estudos territoriais intra-urbanos configura-se cada vez mais como uma relação intrínseca e instiga a importância da transdisciplinaridade neste processo de conhecimento da dinâmica urbana”.
Assim, ao se adotar o trabalho em ambiente SIG, pode se obter uma análise mais qualificada e sempre atualizada do conteúdo espacial, qualidades importantes para se poder analisar o que o processo social impõe ao espaço geográfico.
Referências
CASTELLS, M. O espaço de fluxos. In: CASTELLS, M. A sociedade em rede, p.467-521. Cambridge: Cambridge University Press, 2008.
GUEDES, C. A. M e ROSÁRIO, J. L. Informação e Conhecimento: Os impactos na reorganização do mercado e do trabalho. In:Desenvolvimento em Questão. Ano 3,Nº. 5. Jan./Jun. 2005. Ijuí: Unijuí, 2005.
HARVEY, D. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2005.
KOGA, Dirce. Medidas de cidades: entre territórios de vida e territórios vividos. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2011.